Infectologista alerta para a circulação da variante Delta no Litoral do Piauí

A médica infectologista, Renata Beltrão, conversou com a equipe do site Opiauies.com para esclarecer dúvidas sobre a letalidade das novas cepas, vacinação e os casos de covid-19 em Parnaíba.


 Infectologista alerta para a circulação da variante Delta no Litoral do Piauí
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O surgimento de novas cepas do Coronavírus, ou mutações, como também são conhecidas, é esperado pela ciência, mas há um risco de disseminação em todo o país. Sabe-se que, a primeira informação da variante indiana no Brasil veio no mês de maio, por meio de tripulantes de um navio com bandeira de Hong Kong ancorado no Estado do Maranhão. De acordo com o Ministério da Saúde, o Brasil chegou na última terça-feira 17/08, a 1.051 casos confirmados da variante Delta do novo coronavírus. Até agora, estados como Rio de Janeiro, Paraná, Goiás, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Maranhão, Minas Gerais, Pernambuco, Distrito Federal e agora o Ceará, registram as primeiras mortes e notificações. O Estado com o maior número de mortes segue sendo o Paraná, com 19.

A infectologista, Renata Beltrão, médica responsável no momento mais crítico da Pandemia do Hospital de campanha, de Parnaíba, o Nossa Senhora de Fátima, conversou nessa quarta-feira (18), com a equipe do site Opiauies.com para esclarecer dúvidas sobre a letalidade das novas cepas, vacinação e os casos de covid-19 em Parnaíba.

Doutora, boa noite! Parnaíba no começo deste ano, despontou com números muito altos nos casos confirmados e em óbitos, por covid-19. Nesses meses que anteciparam o mês de Agosto, os números diminuíram expressivamente, podemos falar que esse é um sinal de que a vacinação tem dado certo no município?

Renata Beltrão: Boa noite! Primeiro eu agradeço o convite para falar. E assim, sim, a gente teve essa questão dos dados e, a gente vai primeiro pensar que nós estamos dentro de um curva epidemiológica, então a gente tem aquela história da curva, do aumento, nós observamos o aumento, e depois a redução. Essa redução primeiro pode acontecer com o próprio comportamento da doença, mas obviamente, é influenciado pelo processo vacinal que vai caminhando.

Parnaíba é a segunda maior cidade do Estado do Piauí, mas é um dos municípios que recebe uma menor quantidade de doses de vacina, isso pode trazer um prejuízo para à população?

Renata Beltrão: Então, essa estratégia de distribuição de doses, pelo que consta pelo governo, ele sempre fala que está ali, distribuído de acordo com que a gente teria no senso, mas a gente pensa que podemos ter vários desenhos, as vezes se beneficiar quem não tem tanta estrutura física para conter a doença, por exemplo, beneficiar uma cidade que não tem um sistema hospitalar, beneficiar uma cidade que não tem um sistema de UTI, talvez seja uma vantagem em detrimento, de um desenho maior, porque aí você deixa, talvez, aquelas pessoas com menor cobertura àquelas pessoas que tivessem mais acesso a todo atendimento. Entretanto, a gente fica triste como pessoa de Parnaíba, como parnaibana, porque a gente queria mesmo era que a gente tivesse com 100% da população vacinada.

Doutora, o Estado do Ceará, estado vizinho ao Litoral piauiense, registrou os primeiros casos da variante Delta, o que alertou ao Piauí sobre a possível chega dessa variante. A Fiocruz vai fazer um sequenciamento genético de um piauiense para confirmar, inclusive, se ele se infectou com a variante Delta quando foi a São Paulo. Qual a necessidade da população saber e ter a preocupação em relação novas CEPAS?

Renata Beltrão: Tá. Então, a primeira coisa que a gente tem que imaginar é que não existe um limite definido, pra que a gente não venha receber essa variante. Então, do ponto de vista epidemiológico não tem uma forma de bloquear, a gente vai receber mais cedo ou mais tarde, e saber quando receber é importante, porque dentro das características de cada variante você vai montar todo um arsenal de defesa. Então, se a gente tem uma variante como a Delta, que é mais infectante e tem uma capacidade de se proliferar mais rapidamente, a gente sabe que tem que ter uma armação de um maior número de vagas, de um maior número de leitos, de maior número de serviços ofertados numa quantidade menor de tempo, mas graças a Deus, essa variante vem mostrando que apesar da infectividade maior, ela não tem maior potencial de óbito. Então assim, pelo menos isso é muito bom. Um outro detalhe importante, é que a gente lembra que as vacinas parecem ter uma efetividade, mesmo que relativa, a essa variante, o que ajuda na defesa.

Na quarta-feira dia 19/08, o Ceará confirmou primeiro caso da variante Alfa, variante Britânica, não é isso, Doutora?

Renata Beltrão: É. Há mais ou menos duas horas, saiu o registro da variante Alfa, uma variante britânica, que a gente ainda não têm estudos definidores quanto essa variante, mas que vem agora a primeira suspeição e o primeiro caso confirmado no Ceará.

Renata, na semana passada um assunto reacendeu nas redes sociais, após o ator Tarcísio Meira morrer vítima da covid-19, mesmo ele tendo tomado as duas doses da vacina. Por que, que pessoas que tomaram as duas doses da vacina, e estão com a cobertura imunológica completa, adoecem e infelizmente algumas delas chegam a morrer?

Renata Beltrão: Nós temos que lembrar que, as vacinas estão dentro de um processo de teste. Nós estamos em um teste grande populacional em que a gente tenta beneficiar toda à população do conhecimento que a gente tem, que ainda não é um conhecimento tão expressivo. Então, a gente sabe que hoje, a partir de 6 meses da vacina da segunda dose, algumas apresentações vacinais, começam a ter uma redução da resposta de anticorpos. Então assim, dentro de 6 meses depois da vacina, nós teríamos uma queda da eficiência daquela vacinação, isso é o primeiro desenho que se traz e a gente tem visto isso refletido em muitos casos ambulatoriais pelo país, e em casos de pessoas mais conhecidas, que foi o que tornou esse um assunto em voga na rede social na semana passada

Doutora, a OMS (Organização Mundial da Saúde) tem reforçado diariamente, a prioridade em avançar na vacinação da primeira dose. Alguns países estudam a adoção de uma dose de reforço, e/ou uma terceira dose. O Ministério da Saúde, inclusive, divulgou que também estuda realizar essa aplicação da terceira dose aos profissionais da saúde e aos idosos. O que a senhora acha sobre essa dose de reforço?

Renata Beltrão: Então assim, primeiro pra começar ali no começo da sua fala, fala sobre a questão da primeira dose que a OMS pede pra gente poder acelerar na melhor (sic) da forma, vamos dizer assim, tentar fazer com que isso siga... Então assim, essa defesa, mesmo que defesa parcial da primeira dose, ela é importante, e ela traria uma redução, vamos dizer assim, da proliferação, ou seja, do trânsito viral. Sobre a questão da terceira dose, vem exatamente desse desenho, da gente ter os anticorpos baixando após o sexto mês, do complemento vacinal. Então a gente teria ali, as duas doses vacinais e seis meses depois, a gente tem uma queda da imunidade, e aí vence agora com os novos estudos, inclusive, o ministro vem mostrando esse novo estudo, dizendo que eles vão fazer, o estudo em cima baseado na repetição da própria Coronavac, e de outras vacinas, da Pfizer, a gente tem ali a AstraZeneca, que eles vão fazer a repetição na tentativa de ver os resultados imunológicos.

Para encerramos, mesmo com a circulação de novas Cepas, o Ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, disse na semana passada, em entrevista, que até o fim do ano, o Brasil não vai mais precisar utilizar a máscara. A senhora concorda? Acha que é hora da gente parar de usar a máscara?

Renata Beltrão: Durante todo o desenho da epidemia, a gente sempre dizia assim "vamos olhar primeiro o que as pessoas fizeram fora do País e o que deu certo e o que deu errado, e tentar copiar aquilo que deu certo". Então, pensando na população vacinal que tem mais ou menos a mesma quantidade de pessoas vacinadas, como a gente, que seria ali no caso dos Estados Unidos, a gente tem um pessoal que tentou abandonar o uso da máscara e, infelizmente teve que recuar nessa ação. Tudo bem que a tentativa é que gente esteja um pouco mais à frente no processo vacinal, quando isso acontecer, mas talvez prematuro ainda pensar no abandono da máscara.

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